Júnia Leticia

quinta-feira, dezembro 15, 2016

Fazer jornalístico: experiência individual e coletiva

Júnia Leticia

As diversas nuances que possui o mundo é uma das coisas mais fascinantes no fazer jornalístico. A possibilidade de interação com diferentes estratos sociais e a constatação de que todos os entrevistados são únicos e especiais, independente de sua posição no mundo, leva-nos a pensar filosoficamente, já que os questionamentos são a máxima jornalística.

Essa forma de percepção, que aguça todos os sentidos, não pode se perder em meio às tragédias diárias que, devido à frequência, podem se tornar banais. Viver nunca é trivial, e, sim, um milagre diário. Esse é o trabalho do jornalista: documentar o espetáculo cotidiano e não deixar que ele se perca.

A possibilidade de aprender com centenas de pessoas, dos mais diversos segmentos – educação, cultura, esporte, política, agricultura, responsabilidade social, saúde, entidades de classe, entre outros – faz do jornalista um literato do asfalto. Usar a palavra de forma direta, o mais inteligível possível, é uma forma de democratização da informação e do ensino. E a cada texto novo, tal qual a tabula rasa de John Locke, somos lançados a um novo mundo, que só pode ser aproveitado inteiramente livre de paradigmas.

A amarra das palavras, a princípio soltas, é a alquimia do jornalista, que tem o dom de transformar vocábulos em idéias. O homem só existe como tal graças à palavra. E é ela que registra a sua passagem sobre a terra, valida sua existência.

O imperativo de se usar sempre a terceira pessoa do verbo quase me faz deixar de falar que essa página registra algumas das formas com as quais tive a oportunidade de ver o mundo. Claro que cada um possui sua ótica, pois tem sua própria história de vida e é inevitável a influência que ela tem na forma de se perceber a existência humana. Por isso é impossível ver as coisas em sua essência, tais como elas são.

Nos registros aqui expostos pode-se perceber que, quanto mais o fazer jornalístico se distância do autor dos textos, mais tenta se aproximar da poética da vida – mesmo buscando-se a supressão dos adjetivos. Talvez porque o grande mistério da vida esteja na simplicidade.